segunda-feira, 31 de março de 2014

A Faca

Era uma tarde extremamente quente e abafada, mas isso não era um problema para essa família que podia pagar suas contas em dia e ter uma casa totalmente climatizada.
- Filho, nós vamos nos atrasar! – Disse dona Márcia num tom apressado
-Calma, estou procurando minha mochila – disse Caio. – Achei!
-Então saia desse quarto e vamos!
                Então a campainha tocou e pela casa pôde se ouvir aquele barulho que significava visita. Mãe e filho sabiam que não era uma hora propícia à visitas.
-Quem será? – Perguntou Caio
-Não sei ,pegue a chave do carro e ligue enquanto eu vejo quem é.
                Caio correu até o quarto de sua mãe para procurar as chaves e de lá pôde ouvir o barulho do portão abrindo e a voz rouca de um homem. Curioso com a situação, deixou a procura de lado e foi ver quem era a suposta visita e para sua surpresa era um homem que nunca tinha visto. Se postou a porta da sala e viu a cena.
                O tal homem já estava  na varanda, frente a frente com sua mãe e tinha uma aparência semelhante a de um mendigo. Ele era moreno, usava calças surradas (camisa mais ainda) e um boné tão encardido que fez Caio pensar quando teria sido a última vez que aquele homem tinha tomado banho.
-A senhora não sabe como é difícil a minha vida – Disse o homem e o seu bafo de bebida alcoólica infestou o ar. – Tenho que fazer dezessete exames, minha senhora!
-Entendo, depender de hospital público é muito difícil – Disse a Mãe.
-Eu quero muito que a senhora me ajude com o que a senhora puder, por favor – Ele gesticulava com violência e deixou uma impressão de ameaça para Caio.
Imediatamente ,Caio correu até a cozinha e abriu a segunda  gaveta dos talheres e lá estava ela; prata, com cabo verde-lima e dentes grandes. Ele a segurou com a mão direita e a pôs no bolso de trás da calça e quando fechou a gaveta sua mãe entrou e disse:
-Meu bem, pegue uma sacola e ponha um pacote de açúcar e outro de arroz.
-A senhora vai dar comida à ele?
-Sim, ele está necessitado. Rápido, ainda estamos atrasados!
Após entregar a sacola à mãe, Caio se dirigiu novamente à porta e segurava a faca em seu bolso com muita firmeza esperando qualquer movimento ofensivo acontecer.
-Muito obrigado, senhora. Que Deus lhe abençoe todos os dias pelo o que a senhora está fazendo por mim.
-Não precisa agradecer, é dever de todos ajudar ao próximo.
-Agradeço muito a senhora e ao seu filho – Ele olhou nos olhos de Caio e começou a chorar – Te desejo tudo em dobro.
O homem deu as costas à mãe e ao filho ,atravessou o portão e foi embora. Instantaneamente, Caio pensou no que tinha acabado de fazer.
-Pegou as chaves, meu filho?- Perguntou a mãe

-Não, mas vou pegar e aproveito para deixar algo lá dentro. 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Profissão: Professor(a)

Estou trabalhando. Isso mesmo, a alegria de ter o primeiro emprego, os primeiros chefes, os primeiros colegas de trabalho e, de quebra, o primeiro salário. Enfim, estou trabalhando em uma instituição de ensino de línguas. Meu trabalho? Monitor. Ajudo em algumas coisas aqui e outras ali, dou uma mexida nos computadores (por conta do meu estágio obrigatório) e a minha parte preferida: "dar aulas". Entre aspas, pois só dou aula quando algum professor está inapto a dar, ou quando algum aluno precisa de reforço.
Acho que já deixei claro, para boa parte dos meus amigos, o fascínio que tenho pela profissão de professor. Minha admiração começou em 2011, quando uma das minhas professoras, que por acaso tinha um sotaque muito do seu arretado, mostrou-se tão disposta a me fazer a aprender a sua matéria e a exercer minha cidadania. Mas antes disso, eu via a profissão como uma qualquer.
Acontece que, ser monitor é quase que um passo para ser professor (categoria junior). E acontece que, também, desde que criei essa vontade de ser professor, já ouvi comentários um tanto desnecessários, como: "Larga essa vida, professor rala demais", "Nicholas, professor não é profissão de futuro", "Professor ganha muito pouco", "Ser professor tem muitas desvantagens".
O que dizer sobre esses comentários? Simplesmente: Não mudam em nada minha opinião.
Qual profissão não é difícil? Em qual profissão o empregado chega em casa e não quer cama e janta? Nenhuma! Toda profissão é igual, desde a de gari até a de um grande executivo: Cansativa, da sua própria maneira, mas continua cansativa. Sim, ser professor tem as suas desvantagens, assim como todas as profissões. Veja bem: o dono de uma lanchonete tem problemas com os cozinheiros que comem os estoques, com os fogões que devem estar velhos, com a máquina do cartão que não funciona; o dono de uma academia tem problemas com os aparelhos que já estão enferrujados, com aquela personal treiner que não quer fazer nada, com os pesos que estão desorganizados. Enfim, toda profissão tem seus prós e contras. O que conta no final é saber lidar com os contras.
Ser professor é sempre se sentir um pouco despreparado na sua primeira aula (na minha primeira aula eu estava tão nervoso!), ter aquele aluno que conversa demais, aquela aluna que chega atrasada, aquele aluno que bagunça demais e aquele aluno que faz valer a pena todo o trabalho de ter que preparar uma aula.
Realmente, não vejo professores por aí ganhando salários exorbitantes (a não ser alguns que trabalham em inúmeras instituições), é uma profissão, infelizmente, desvalorizada por muitos em nosso país. Por isso que eu apoio, da minha maneira, os movimentos desses profissionais (dei uma passada no último movimento que teve dessa categoria). Mas cada profissão deve ser praticada com paciência e amor, afinal, do que adianta trabalhar em algo ou com algo que você não goste?
E no final das contas e do dia, tudo parece valer a pena, quando um ou dois alunos chegam pra você e dizem "Obrigado,adoro as suas aulas, teacher!" ou "Era pra você ser nosso professor!"
Ser professor é ser, além da ponte entre o aluno e o conhecimento, o mapa desse aluno, a mão amiga.


sábado, 22 de março de 2014

Igualdade

Meu maior medo ao escrever esse post era: Ser incoerente. O fato é que eu sou obcecado por ter duas opiniões (ou mais, se acostumem) sobre determinado assunto, mas acho que consegui ser "coerente". Então nada melhor do que começar falando sobre algo que "está tomando" as redes sociais (facebook) e que daqui alguns dias ninguém mais se lembrará.
Primeiramente, é preciso dizer que sou obcecado, também, pela igualdade. Seja o que for, racial, econômica, social (prevejo gente me chamando de comunista), sexual... Para mim igualdade é essencial. Digo isso pois convivo (quem não?!) com a desigualdade. Então, se necessário, serei feminista. Mas nunca machista.
Indo ao ponto (finalmente), falo sobre a matéria publicada no G1 (Clica aqui), no dia 20 desse mês. Resumindo, é apenas mais uma daquelas matérias bobas e de "entretenimento" sobre um tal segurança de metrô na cidade de São Paulo, que virou febre por ser, de acordo com a repórter, "gato".
O que me revoltou não foi isso, claro.


Vi essa imagem no facebook de um perfil de um cidadão comum. Certo, a imagem não me revoltou, mas sim os comentários sobre as moças em destaque:

"Mulher não presta pra nada";
"Para as mulheres, existem apenas 2 tipos de homens: o bonito e o rico... Se você não se enquadra nos 2 ou em um dos tipos citados acima, então contente-se em ficar sozinho o resto da sua vida... É triste mas é a realidade...";
"Lógica feminina: Homem feio encoxando = doente mental, maníaco, estuprador. Homem bonito encoxando = cara de pegada, que sabe flertar, homem de verdade.".

São comentários machistas como esses que me revoltam. Não acho que elas estejam erradas em querer que ele as "estupre" ou "passe a mão".
Acredito que as mulheres, assim como os homens, tem seus próprios desejos sexuais e fetiches. Isso é fato. Acredito, também,que se o homem "encoxa" determinada (qualquer uma que tenha bunda grande) mulher no metrô ou no ônibus, a mulher também tem direito de escolher quem a "encoxa" ou não, seja ele feio,bonito ou até mesmo outra mulher.
Infelizmente, nesse nosso país, que por sinal anda pouco evoluído no termo igualdade, a mulher ainda é julgada, por uma boa parte da sociedade, por seus atos, que se assemelham aos dos homens.

Prova disso foi um debate feito na minha sala sobre a relação MaridoXEsposa. Por incrível que pareça, muitas meninas comentaram que a esposa deve ser submissa ao seu marido. Eu pedi pra sair da sala,claro.
Infelizmente é isso que acontece, o homem submete a mulher à julgamentos e regras repugnantes, enquanto não há relação alguma de respeito mútuo.

É aquela coisa do "Um menino que fica com três garotas é o 'pegador'; já a menina que fica com três garotos é a 'puta'."

Começando

Ok. Por onde começar? Bem, resolvi criar um blog, para compartilhar meus pensamentos (não diários ou semanais) e opiniões (horárias e infinitas). Sem contar que é ano de vestibular, ou seja, quanto mais eu escrever, mais eu treino pra uma boa redação. Enfim,só peço uma coisa: leia a essência dos textos. Boa viagem!