quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Período

Lógica feminina é o que me domina,
Não se sinta melhor só por que
Sangro pela minha vagina.

Não me peça para ser submissa, 
e não pense que não serei totalmente promíscua.

Casa, comida e roupa lavada
Tira o cavalinho da chuva, pois não sou tua escrava.

Me dê carro, apartamentos, joias, roupas e tudo mais,
 mas não fique pensando que eu serviçal do seus prazeres sexuais.

Não espere que eu seja virgem no nosso primeiro encontro, 
é toda essa hipocrisia que eu sou contra e afronto.

Meu corpo, minhas regras, 
então não venha-me com esse papo 
pois sou dona das minhas "pregas".

Cabelos na chapinha, unhas de rainha,
fica na tua, pois depilação se eu quiser faço a minha.

Implante de silicone e botox são melhores
Do que passar uma vida inteira
Lavando panelas inox.

Não é mais estupro, é sexo surpresa, 
mas se eu expressar minha opinião corro o risco de ser presa.

Ricas abortam, nos pobres morremos, 
deixe de papo,
legalização do aborto é o que queremos.

Short curtinho, camisa cavada
Mesmo assim não mereço ser estuprada.

Não pense que por sermos feministas odiamos sexo,
Porém essa é a nossa forma protesto.

Não existe mulher que gosta de apanhar
e sim, mulher humilhada demais para poder denunciar.

Eles dizem que são a favor das causas da família, 
mas são os primeiros a abusarem da própria filha.

Ser feminista não é achar ser melhor que o homem, 
mas lutar pelo direito daquelas que são abusadas e somem.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A tranca da porta

Eu adorava brinca com a Ju naquela época, era maravilhoso. Ela tinha brinquedos incríveis. Naquele dia, ela tinha ganhado uma pista de corrida de carros. Brincávamos juntos, apesar dela ser quatro anos mais velha do que eu (ela tinha oito anos). Mas eu odiava quando a porta rangia e o irmão dela aparecia. Ele tinha 16 anos.
Naquele dia foi tudo diferente:
-Ju, posso brincar com ele?
-Não, estamos brincando juntos.
-Tô nem aí.
Ele me puxou pelo braço para o seu quarto e trancou a porta.
-Curte pirulito, bebê?
-Aham...
-Pega esse daqui...
...
E foi assim o resto do ano que mamãe me deixava na casa da Dona Núbia. Odeio ouvir portas sendo trancadas até hoje, me lembra cada minuto ali dentro.

Mas um dia apareceu uma mancha vermelha, mamãe viu e lavou a roupa mesmo assim. Eu conseguia ver que o que caía no tanque não era só água. Mesmo aos quatro anos eu entendi.

Nunca mais brinquei ou vi Ju novamente. Mamãe contou que ela e a família tinham se mudado, mas disse para eu não me preocupar, que ela nunca mais me deixaria sozinho.

domingo, 9 de novembro de 2014

Família

Essa semana, ocorreu a maior votação/petição da internet e o assunto era mais ou menos assim: "Você concorda que a definição de família é homem/marido e mulher/esposa?". Vi muitos amigos pedindo pra votar em Não e outros, que me surpreenderam , pedindo pra votar Sim.

Eu, particularmente, ainda não votei, mas já sei até qual é meu voto e acredito que vocês também saibam.

Pra quem não me conhece, nasci em 1996. Naquela época, era pecado e terrível uma mulher ter filho sozinha, criar o filho sozinha e aquilo não era considerado uma família aos olhos da sociedade. Pois é, minha mãe me teve sozinha. Arcou com todos esse preconceitos e stigmas sozinha também e, acreditem, hoje somos uma família.

Fui criado só pela minha mãe, assim como muitas pessoas também. Outras já foram criadas só pelo pai, ou pelos avós, ou pelos tios e até por desconhecidos... Isso que família é pra mim. Amor incondicional, em barreiras ou preconceitos.

Os grandes religiosos dizem que estão em defesa da família brasileira, mas esse conceito de família já foi por água a baixo há muito tempo. Eles dizem que tá escrito na bíblia, que só o homem e a mulher podem participar da educação de uma criança. Estão errados.

Não podemos deixar que um livro de mais de 2000 anos atrás, que foi escrito em outra época com outros ideais e princípios, afete a nossa vida social no presente.

Dizem que casais de gays e lésbicas não podem adotar uma criança, por vão ensiná-la a ser homossexual. Como é explicado, então, que todos os homossexuais são filhos de heterossexuais?

Família não pode ser definida numa votação, ou por alienados pela igreja. Cada família é única e linda, do jeito que é.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O casamento de Suzane

Bem, o título já é bem sugestivo. Durante a semana passada esse assunto tomou conta das redes sociais em uma proporção que não deveria ser tão grande.

Suzane Richthofen, que matou os próprios pais em 2002, se casou com outra prisioneira no presídio onde se encontra. O fato que gerou discussão e polêmica foi que a sua esposa, Sandrão, é ex de Elize Matsunaga, que matou e esquartejou seu marido no ano passado.

Casamento e namoro entre prisioneiras não deveria causar esse alvoroço todo, já que é algo comum em presídios grandes.

O que mais me chamou atenção foram as fotos publicadas no site da Marie Clarie, junto com uma entrevista com Suzane. Nas fotos, as presidiárias aparecem comemorando o festival de Miss Primavera. Estava tudo tão lindo! Juro. Enfeites, prisioneiras e candidatas bem vestidas e até os carcerários estavam animados.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Pois, antes de traficantes, assassinas, sequestradoras e tudo mais, elas são humanas, mulheres, pessoas. Tem sentimentos como cada um de vocês que estão lendo esse artigo. Sofrem, sentem culpa, arrependimento e felicidade. Óbvio, existem aquelas que se forem soltas, trarão malefícios para sociedade (novamente), mas existem aquelas que realmente se arrependeram, estão pagando pelos seus erros.

Afinal, quem não comete erros? Elas cometeram, eu já cometi e você também, claro que em níveis diferentes, mas não deixam de ser erros.

Suzane disse que ainda pretende voltar a estudar e ser mãe. E ela não está errada. Todos temos direito de sonhar.

O que me fez quase chorar ao ver as fotos foi o fato de nelas, transparecer a humanidade e o sentimento de cada presidiária. Pois antes de prisioneiras, adolescentes, professores e mães, somos humanos.

Suzane com Miss Primavera 2013 e uma das candidatas.


OBS: Ah, uma dica é assistir a série Orange is The New Black, uma das minhas preferidas, que se passa num presídios para mulheres.