sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A tranca da porta

Eu adorava brinca com a Ju naquela época, era maravilhoso. Ela tinha brinquedos incríveis. Naquele dia, ela tinha ganhado uma pista de corrida de carros. Brincávamos juntos, apesar dela ser quatro anos mais velha do que eu (ela tinha oito anos). Mas eu odiava quando a porta rangia e o irmão dela aparecia. Ele tinha 16 anos.
Naquele dia foi tudo diferente:
-Ju, posso brincar com ele?
-Não, estamos brincando juntos.
-Tô nem aí.
Ele me puxou pelo braço para o seu quarto e trancou a porta.
-Curte pirulito, bebê?
-Aham...
-Pega esse daqui...
...
E foi assim o resto do ano que mamãe me deixava na casa da Dona Núbia. Odeio ouvir portas sendo trancadas até hoje, me lembra cada minuto ali dentro.

Mas um dia apareceu uma mancha vermelha, mamãe viu e lavou a roupa mesmo assim. Eu conseguia ver que o que caía no tanque não era só água. Mesmo aos quatro anos eu entendi.

Nunca mais brinquei ou vi Ju novamente. Mamãe contou que ela e a família tinham se mudado, mas disse para eu não me preocupar, que ela nunca mais me deixaria sozinho.

Um comentário:

  1. Creio que esse é o conto mais pesado que postei ou escrevi. Apesar de ser fictício, é uma infeliz realidade.
    Não fique calado quando o assunto é abuso infantil! Disque 100

    ResponderExcluir